Os juros para a compra da casa própria devem voltar a cair no Brasil, após a redução de 0,5 ponto percentual da Taxa Selic na quarta-feira (20). Atualmente, os juros do financiamento imobiliário estão em 10,5% por ano na Caixa Econômica Federal. A tendência de outras quedas até o fim do ano criará um cenário ainda mais favorável para quem deseja comprar imóveis. E esta procura maior também deve valorizar casas e apartamentos.
Mesmo com tantas vantagens para a compra de imóveis, ainda há muita gente que prefere viver de aluguel. Mas o que deve ser levado em conta na hora de escolher entre comprar ou alugar? A reportagem de O TEMPO ouviu um especialista em mercado imobiliário e ele recomenda que a pessoa avalie muitas questões e não tome a decisão pensando apenas na parte financeira.
Existe obviamente a questão financeira, que a gente pode analisar botando numa planilha de Excel ou na calculadora, mas há um contexto por trás de tudo isso que a gente não pode deixar de olhar que é a questão cultural e eu diria também até a questão psicológica. A compra de um imóvel representa a realização de um sonho para muitas pessoas, às vezes desde criança. E isso vem de geração para geração, afirma Sergio Cano, professor do MBA de Negócios Imobiliários da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Adquirir um imóvel geralmente dá uma sensação maior de segurança para os brasileiros, que gostam de ter uma casa própria para morar. Financeiramente, esta compra costuma valer mais a pena para as famílias de baixa renda e de classe média, que podem aproveitar as condições especiais do programa Minha Casa, Minha Vida. Nesta modalidade, os juros variam de 4,25% ao ano (para renda familiar de até R$ 2.640) a 8,16% ao ano (para renda familiar de até R$ 8.000). O programa financia imóveis de até R$ 350 mil.
Nas famílias com renda mais baixa, o sonho da casa própria é ainda maior porque a pessoa, muitas vezes, está morando num lugar que não tem uma urbanização adequada, mora na casa de parentes ou vive em um local onde o peso do aluguel representa muito perante a renda. Além da taxa de juros mais baixa para esses programas populares, também há um subsídio a depender da faixa de renda que a pessoa se enquadra. E projetando isso no longo prazo, pode ser muito mais interessante não só do ponto de vista cultural, familiar e psicológico, mas também financeiramente, destaca o professor da FGV.
Para as famílias com renda maior do que R$ 8.000 por mês e com uma boa quantia em dinheiro guardada, o especialista afirma que pode valer a pena investir o valor e pagar o aluguel de um imóvel com parte do rendimento mensal. Mas tudo tem que ser muito bem estudado, principalmente se o investimento for em renda variável, onde o risco é maior.
Se você é um investidor moderado ou arrojado, faz muito sentido pegar o dinheiro e investir para ganhar cerca de 1% ao mês, em vez de comprar o imóvel e tomar um crédito para ficar pagando uma taxa de juros elevada, explica Sergio Cano.
Um exemplo: com R$ 500 mil aplicados em fundos imobiliários a uma taxa de 1% ao mês, como sugeriu o professor, o investidor recebe um rendimento de R$ 5.000 mensais, livres de impostos. Em Belo Horizonte, o aluguel de um apartamento de 100 m² custa, em média, R$ 3.441 por mês, de acordo com o último índice de Aluguel QuintoAndar, Imovelweb, referente a fevereiro de 2024. Ou seja, com o valor de R$ 5.000, a pessoa paga o aluguel e ainda sobram R$ 1.559 mensais.
Por outro lado, quem quer comprar um imóvel de R$ 500 mil e tem R$ 100 mil para dar de entrada (por exemplo, com o FGTS) precisará pegar R$ 400 mil com juros de cerca de 10% ao ano, mais as taxas bancárias. Ou seja, a pessoa irá pagar R$ 40 mil por ano apenas em juros, o que dá R$ 3.333 por mês.
E é importante ressaltar que se pessoa não conseguir pagar as parcelas do financiamento, o banco tomará o imóvel na justiça e irá vendê-lo em um leilão. Ou seja, a pessoa perde sua casa e tudo que já pagou. Por isso, é fundamental fazer as contas e colocar tudo na ponta da caneta.
Concluindo, quem quer comprar ou alugar um imóvel deve considerar muitas variáveis para tomar a decisão:
A decisão de comprar ou alugar um imóvel é um momento marcante de cada pessoa, e esse momento vai depender dos objetivos e prioridades para encontrar um novo lar. Alguns fatores devem ser considerados ao tomar a decisão. O principal deles é o planejamento financeiro, uma vez que custos adicionais podem chegar até 10% do valor do imóvel. Para aqueles que já avançaram nessa reflexão, esta é uma boa janela de oportunidade do ponto de vista do cenário econômico, já que as taxas de juros de financiamento tendem a cair nos próximos meses, e isso ainda não foi refletido numa alta de preço dos imóveis no mercado?, analisa Thiago Bernardes, head comercial do QuintoAndar.
Mas esta decisão depende do momento de vida de cada pessoa.
Outros exemplos de fatores a serem considerados são: urgência na mudança - o processo do aluguel tende a ser mais rápido; e pretensão sobre o tempo que ficará no imóvel - no geral, comprar pode ser a melhor opção, em termos financeiros, se você pretende morar nele por pelo menos seis anos, diz Bernardes.
No entanto, é importante sempre lembrar que a pessoa que aluga um imóvel está pagando mensalmente por um imóvel que não é dela, ou seja, não está construindo um patrimônio (a não ser na última opção citada, quando é investido o valor que sobra do rendimento de aplicações financeiras).
Acesso: 27 de março de 2024.